quinta-feira, 15 de abril de 2010

O contexto cultural pode confundir a divisão entre teologia e sociologia




Os adventistas têm levado muito a sério (e têm tido bastante êxito) a missão de anunciar a mensagem a todo o mundo.

Isto trouxe uma consequência que possivelmente não se previu há meio século: as pessoas mobilizam-se mais do que nunca. Temos assistido a um fluxo migratório em larga escala das ex-colónias para os países colonizadores; há também registos de milhões de pessoas que procuram asilo e de refugiados, e trabalhadores itinerantes que vão viver para outros países.

Este fenómeno afectou grandemente a vida da Igreja Adventista. O adventismo americano teve não só de lidar com questões de integração de Anglo e Afro-Americanos, como também tem recebido cada vez mais um enorme fluxo de latinos, imigrantes do Médio Oriente, asiáticos e africanos.

Em muitos países europeus, o efeito pode ter sido ainda mais dramático. A Igreja Adventista na Inglaterra e França modificou-se para sempre, uma vez que a maioria dos seus membros é de ascendência africana. Na Espanha, quase metade dos membros de igreja vêm da Roménia. Num país pequeno como a Bélgica, a situação é provavelmente mais complexa do que em qualquer outro lugar: uma grande percentagem dos seus membros é composta por ruandeses, congoleses, romenos, russos e talvez uma dúzia de outros países.

Vivi alguns anos na Grã-Bretanha e conheço a história recente da Igreja naquele país, fiz também parte da administração eclesiástica na Holanda. Durante este tempo, cheguei a algumas conclusões, e tentei contribuir para ajudar a Igreja a usar produtiva e eficientemente esta nova realidade como uma base que lhe confere mais força.

Ninguém pode (ou deve) negar que a nova realidade é problemática. Mas esta traz-nos igualmente um enorme potencial. Em muitos lugares tem produzido uma nova vitalidade em igrejas totalmente estagnadas e desanimadas.

Penso que alguns elementos básicos nos ajudarão a apreciar a nova situação. Tem de existir a convicção genuína de que a nova diversidade significa enriquecimento, e de que a aprendizagem mútua ajuda a Igreja a amadurecer. A diversidade não deve ser tolerada apenas quando temos de conviver com o inevitável, mas precisa de ser avaliada positivamente. Ao mesmo tempo, cada um necessita de espaço para conservar a sua identidade.

O importante é que, de uma maneira ou de outra, a Igreja encontre formas de falar sobre os diversos assuntos. As pessoas precisam muitas vezes de ajuda para compreender que as diferenças nem sempre são étnicas, mas de carácter cultural. A diversidade nos estilos de adoração, na pontualidade, na guarda do sábado e nas actividades de jovens é frequentemente apresentada como tendo grandes implicações teológicas, embora a maioria dos aspectos seja essencialmente cultural.

A longo prazo, a diversidade teológica é talvez o aspecto mais difícil de tratar. Muitas vezes parece que os recém-chegados são mais conservadores na sua teologia e ética do que os membros 'originais'. As discussões honestas, quando conduzidas com tacto, revelarão que a questão principal é determinar aquilo que é considerado”real” no adventismo e o que é secundário. Cheguei cada vez mais à conclusão de que a linha de divisão na Igreja se encontra particularmente entre o 'moderno' e o 'pós-moderno', e que é fundamental ajudar as pessoas a compreender o que é que isto implica e só então desenvolver modos de lidar com esta diversidade essencial.

Reinder Bruinsma é o ex- presidente da Igreja Adventista na Holanda.

Fonte: Adventist News Network








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