sexta-feira, 16 de abril de 2010

2010 é marcado por desastres naturais nas Américas

Juan Barreto/AFPFoto por Juan Barreto/AFP
Equipes de salvamento resgatam sobrevivente depois do terremoto no Haiti. Tragédia matou mais de 200 mil e foi maior desastre natural do continente

O registro de dois grandes e mortíferos terremotos no intervalo de menos de dois meses no início deste ano nas Américas, enquanto tempestades de neve nos Estados Unidos e chuvas no Brasil e no Peru também causaram mortes, chamou a atenção para a concentração de desastres naturais de proporções históricas em menos de 60 dias.

O terremoto de 7 graus na escala Richter que devastou a capital haitiana no dia 12 de janeiro e causou um número estimado de mais de 200 mil mortes marcou o início de 2010 e foi seguido, 46 dias depois, pelo tremor de 8,5 graus na costa chilena, que causou um tsunami.

Os mortos pelos efeitos combinados do terremoto e das ondas gigantes em território chileno ainda não foram completamente contabilizados, mas o governo já identificou 452 corpos.

O terremoto do Haiti está sendo considerado a maior tragédia natural da história das Américas, enquanto o tremor chileno foi o mais forte em 50 anos no país. Mas é preciso conhecer um pouco a natureza dos terremotos para entender que 2010 não está apresentando uma atividade sísmica incomum em termos globais.

A média de terremotos no início deste ano não foge ao padrão histórico, segundo dados do Serviço Geológico dos EUA (USGS na sigla em inglês). Nos dois primeiros meses de 2009, cinco terremotos de magnitude igual ou superior ao do Haiti foram registrados, todos na Ásia ou em regiões do oceano, sem número significativo de vítimas.

A média é de um terremoto com 8 ou mais graus na escala Richter a cada ano, de acordo com o USGS. Em 2007, por exemplo, foram quatro os tremores acima de 8. A particularidade de 2010 não é a concentração dos terremotos, mas o fato de eles terem atingido áreas densamente povoadas.

A situação foi agravada por fatores que nada têm a ver com condições geológicas. O Haiti já era o país mais pobre das Américas antes do terremoto, e suas construções não tinham resistência a tremores. No caso do Chile, um dos países com melhor nível de vida na América Latina, a maior parte das mortes está sendo atribuída a falhas no alerta de tsunamis.

Além da pobreza, contribuiu para a tragédia haitiana o fato de que nem o governo nem a população tinham preparo para terremotos. O último tremor comparável no país aconteceu há mais de um século. Mas a ocorrência não era totalmente inesperada, porque a capital haitiana, Porto Príncipe, está ao lado de uma falha geológica.

Já o tremor do Chile aconteceu em uma região de atividade sísmica intensa, que em 1960 registrou o mais forte terremoto da história mundial, com 9,5 graus na escala Richter.

O fato de o país ter construções adaptadas aos tremores – e a circunstância de que o terremoto não foi tão próximo a uma cidade povoada como no Haiti – fizeram com que houvesse menos mortes no Chile.

O continente já estava abalado antes dos tremores. As chuvas no Brasil, que se intensificaram em dezembro, continuaram a fazer vítimas em janeiro. O primeiro dia do ano foi marcado pela contagem dos mortos em Angra dos Reis, principalmente devido a um deslizamento de terra na véspera do ano-novo. Mais de 50 pessoas morreram na cidade, e cerca de 80 no Estado do Rio de Janeiro nos dias finais de 2009 e nos primeiros de 2010. Em São Paulo, mais de 70 pessoas morreram desde dezembro.

Segundo medição do Inmet, (Instituto Nacional de Meteorologia), o primeiro mês de 2010 foi o janeiro mais chuvoso desde 1947, O instituto atribuiu a intensidade, em parte, ao fenômeno El Niño, um aquecimento das águas do Pacífico Sul que acontece de forma mais ou menos regular a cada sete anos.

Segundo especialistas, o mesmo El Niño explica as chuvas no Peru, que isolaram a cidade turística de Machu Picchu, e influencia até mesmo as nevascas registradas nos EUA, onde Washington e Nova York enfrentaram um dos invernos mais rigorosos em cem anos.

- Seus efeitos são sentidos das águas aquecidas do Pacífico no Peru, e quando vemos o aquecimento no leste do Pacífico, essa é a pista de que estamos no ciclo do El Niño, explica Don Grene, geólogo da Universidade Baylor, nos EUA.

Levando-se em conta as três últimas décadas, nem as chuvas nem a neve causaram tantas mortes quanto outros fenômenos semelhantes em um passado não muito distante nas Américas.

Nos meses finais de 1999, por exemplo, enchentes e deslizamentos mataram um número estimado entre 10 mil e 30 mil pessoas na Venezuela, enquanto mais de 400 morreram no México. E as nevascas deste ano na América do Norte foram responsáveis por menos de um terço das mais de 150 mortes registradas na grande tempestade de neve que atingiu a costa leste dos EUA entre 6 e 8 de janeiro de 1996.

Mas a dimensão inédita da catástrofe haitiana lançou uma sombra de tragédia sobre o início de 2010 no continente, sob a qual os outros desastres acabaram realçados. E os fatores humanos ajudaram tanto a realçar as catástrofes naturais – nos casos de falta de preparação – como para aliviá-las o que se evidenciou na corrente de solidariedade que se seguiu a cada um dos eventos.

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